domingo, 24 de junho de 2012

Número de mortos em acidentes de moto cresce 95% no estado

Estudo do Ministério da Saúde revela que o número de mortes de motociclistas quase dobrou em três anos na Bahia. O aumento é muito maior que o registrado no país.
Segundo o levantamento, o número de internações pagas pelo SUS decorrentes desse tipo de acidente em todo o estado saltou de 1.800 casos em 2008 para 4.191 em 2011. Esse aumento -  de 133% - gerou no ano passado um gasto para os cofres públicos de R$ 2.342.919,38 a mais que em 2008.

Capital

Já em Salvador, segundo estimativa da Transalvador, a cada dez acidentes de trânsito, sete tem motocicletas envolvidas. Segundo o diretor de trânsito do órgão, Renato Araújo, as vítimas geralmente são homens entre 18 a 29 anos e que usam motocicletas de até 125 cilindradas. “Já chegou ao ponto de a gente ter acidente de motocicleta com motocicleta”, diz.

O auxiliar de serviços gerais, Adriano Souza já se acidentou duas vezes. Na primeira, em 2007, um carro colidiu com sua motocicleta. Ele perdeu o movimento do pé esquerdo. Na segunda vez, em março deste ano, um assaltante que estava em um carro roubado e fugia da polícia veio na contramão, próximo à entrada de Itinga, e colidiu de frente com a moto. Ele fraturou o fêmur e a tíbia do pé esquerdo.

Hoje, ele está impossibilitado de trabalhar e anda com auxílio de muletas; faz fisioterapia duas vezes por semana e pelo menos uma vez por mês tem que fazer revisão no Hospital do Subúrbio. “Fiquei um mês e meio de cadeira de rodas. A previsão para eu estar realmente recuperado é de no mínimo seis meses. Dependo da ajuda de amigos. Agora vou parar com esse negócio de moto. Já chega”, desabafa.

Naim pensa um pouco diferente. “Adoro moto. É uma verdadeira paixão. Mas, ainda não voltei a andar. Psicologicamente,  não estou pronto. Só daqui a seis meses ou um ano”, diz o advogado, que apesar de tudo comemora: “A previsão era que eu ficasse no hospital por dois anos e tinha o risco de ficar paraplégico”.

Causas

Para o professor da Escola Politécnica da Ufba e especialista em trânsito e transporte, Elmo Felzemburg, o primeiro aspecto a ser considerado é o aumento no número de motocicletas. “Os dados são alarmantes porque são vidas perdidas e as internações refletem nos custos da saúde pública. A maioria dos jovens não tem condições de comprar um carro e o nosso sistema de transporte público é tão deficiente que faz com que os cidadãos procurem alternativas”, destaca.

O professor destaca ainda a fragilidade das motocicletas. “O parachoque do motociclista é ele próprio”, diz. O coordenador do curso de Fisioterapia da Unime, Paulo Henrique Oliveira, concorda. “O piloto de moto está muito exposto. Quando ele cai, pode lesionar as pernas, braços, coluna e cabeça”, diz.

Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), em sete anos houve um crescimento na Bahia de 185% no número de motos cadastradas no órgão - de 303.126 em 2005 para  865.565 este ano. Em Salvador, esse aumento foi de 40.089 para 96.291 (140%) no mesmo período.

Aliado ao incremento de motos estão também, segundo especialistas, a imprudência e problemas nas pistas. “Muitos motociclistas invadem sinais, trafegam entre carros. Tem também nossas vias que são mal sinalizadas. Carros e motos trafegam misturados”, diz Felzemburg.

O especialista destaca também que a fiscalização insuficiente. “Apesar de parecer que a prefeitura multa muito, não tem adiantado”. No caso de Salvador, o diretor de trânsito da Transalvador diz que as blitze são feitas todos os dias. “A gente recolhe cerca de 40 motocicletas por dia. É um número elevado”, destaca Araújo.  Entre as principais infrações, Araújo destaca falar ao celular na direção, trafegar sobre canteiros, andar na contramão e não usar capacete.

PRE: maior perigo é andar entre os carros

A maioria dos acidentes ocorre nas rodovias baianas quando os motociclistas passam pelos corredores de veículos, segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Na sexta-feira, duas pessoas morreram e outra ficou ferida no Km 96 da BR-420, próximo ao Porto de Aratu.

A PRE informou que o acidente aconteceu quando uma motocicleta que transportava três pessoas se chocou lateralmente com um caminhão. Jéssica Carmo dos Anjos, 20 anos, e Andressa Sampaio dos Santos Pereira, 15 anos, não resistiram aos ferimentos e acabaram morrendo no local. O condutor da motocicleta, Luciano de Jesus Araújo, 20 anos, ficou gravemente ferido e foi socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE).

O motorista do caminhão fugiu sem prestar socorro. “O que acontece é que a motocicleta é um transporte precário, sem estabilidade. Qualquer desequilíbrio provoca um acidente”, destaca o tenente da PRE, Jorge Lopes. “A gente faz fiscalização ordinárias nos postos”, complementa.
Foto: Washington Nery

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