Há dez anos, Daiane Graziela Santana descobriu
a profissão com a qual se identificava: sapateira. Antes, fora empregada
doméstica. Trocou aventais e panelas pela cola, agulhas e linhas. É a única
mulher entre mais de 40 homens na Praça do Sapateiro, no Centro de Feira de
Santana.
Sem
meias-palavras diz o que pensa: “Amo ser sapateira. Já está sangue. Minha avó
também foi”. Mãe de três filhos pequenos, afirma não temer possível
discriminação tampouco o terceiro turno de trabalho, na casa dela.
Diz
que a relação com os colegas é cordial. “Aqui não existe concorrência. Eles até
arrumam sapato para eu consertar e me orientaram quando estava começando”.
Enquanto conversa vai costurando o solado de um tênis, com o cuidado para
deixar o sulco, onde a linha passa, com a profundidade ideal.
“Não
pode deixar raso porque quando a pessoa for caminhar, a linha corta, estraga”,
explica, enquanto maneja com habilidade uma faquinha amolada. Lembra que foi
iniciada na atividade pelo tio, Érico, um dos mais antigos do local.
Afirma
que a liberdade de horário a agrada. “Da para a gente chegar mais tarde. Se
trabalhasse com carteira assinada não chegaria”. Outro ponto importante para
ela é a remuneração. “A gente divide meio a meio o que faturo. Com a vantagem
de que não compro a matéria-prima”.
Foi
convidada por Érico Sapateiro para ser costureira na tenda dele. Ou melhor:
consertar bolsas. “Fui observando os meninos e aprendi. Logo estava fazendo o
que os colegas faziam”. Diz que é expert em consertar bolas de futebol.
Com
o tempo e habilidade driblou a desconfiança dos homens com relação ao seu
serviço. “Viram que a mulher é bem mais caprichosa. Hoje gosto mais de
consertar sapatos e tênis do que bolsa. Me identifiquei com o serviço”.
Comenta
que não é tão simples consertar um sapato. E que gosta de trabalhar na praça. O
contato com as pessoas a agrada. Gosta da interação. É dona de seis máquinas de
costura industriais. “Não me identifico com elas”. O conserto no tênis ficou
perfeito.
Fonte: SECOM/Foto/Washington Nery
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