sexta-feira, 29 de julho de 2022

A fome jamais esperaria o shopping dar certo

 

O economista e Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano, Antônio Rosevaldo publicou na sua coluna no Blog da Feira, nesta sexta-feira (29), que já tinha alertado na sua coluna para o risco de retirar os camelôs e ambulantes do centro da cidade e levar para o novo Shopping Popular, sabíamos dos perigos que cercavam a sobrevivência daquelas famílias. Infelizmente os poderes nas três esferas fizeram ouvidos de mercador para fazer um trocadilho infame com este momento perverso. Fora algumas declarações de vereadores de oposição sobrou ofensa pra todo lado tanto no Executivo como no Judiciário, ou alguém acha que foram esquecidas as palavras elitistas de um membro do Ministério Público sobre a aparência da cidade? Alguém esqueceu o silencio dos magistrados sobre o tema? Apenas a preocupação aconteceu com a estética do centro da cidade. Num momento de pandemia, recrudescimento do desemprego, a fuga naquele momento era ir as ruas vender desde um aipim a um caldo de cana, um eletrônico de quinta categoria, uma roupa, uma capa de celular, etc. Mas a maldade capitalista prevaleceu e lá se foram alguns para o armengue construído com dinheiro público.

Esqueceram de avisar ao prefeito atual, herdeiro do trambolho que os clientes não iriam. O dono do armengue passou a soltar ofensas aos trabalhadores do centro e ameaças veladas aos representantes da prefeitura. Vale salientar que muitos camelôs nem foram para o trambolho. Aquele projeto inconcluso ficou vendendo ilusões a quem se dispôs a ir abrir um box com custos elevados de locação.

Recebendo além do terreno, uma grana de R$ 13.000.000,00 de reais dos cofres municipais, o tal empresário se arvorou ao não concluir o projeto e mambembe, abriu o estabelecimento. Ao longo do último ano, apenas quem se localiza na frente do armengue consegue vender algo, quanto mais se adentra o trambolho, as vendas caem. Sem poder pagar aluguel, tiveram boxes lacrados conforme reza uma das cláusulas exorbitantes do contrato de locação. Sem segurança, sem apoio logístico o empreendimento tem uma tendencia nos dias de hoje de virar suco, quem sabe o caldo de cana, afinal de contas 27 vendedores de caldo de cana foram cadastrados, onde estão? No começo ainda vi um funcionando no final do galpão trambolhado, nem sei se ainda está aberto, e os outros forma pra onde? Há meses que uma pergunta teima em replicar: Onde estão os 1800 camelôs do cadastro para ocuparem o Armengue chamado de Shopping Popular? A concessionária tem pago a prefeitura o Ônus Variável? Espécie de aluguel pago a prefeitura pelo menos? Estão previstas no contrato, um aporte médio anual de R$ 15 milhões de reais e a pergunta é: a empresa fez isto? Caso contrário cabe uma ação de encampamento da concessão. Vale lembrar que o Investimento total do empreendimento seria de R$ 92,2 milhoes de reais, incluindo os R$13 milhoes da contrapartida da Prefeitura.

A sensação que temos ao visitar o armengue é que apenas a grana da prefeitura entrou na parada. Mas aí fica mais fácil culpar a oposição que deseja fazer política com o fato. Mas, aqui pra nós, oposição deve fazer o que mesmo? Ficar em silencio? Somente os coligados da gestão municipal tem direito a fazer política? Ora, me façam uma garapa de limão com açúcar e gelo. Infelizmente, a preocupação com os mais pobres somente acontece em épocas eleitorais. Então encerro com uma expressão que utilizei na audiência pública da defensoria pública e em outra na câmara de vereadores:

Amanhã será um novo dia, e mais agonia, seres humanos serão privados de sua subsistência. O mercado informal tem a capacidade de mascarar o desemprego, dando condições para que sobrevivam. O hoje chegou com pedido de ajuda com alimentos a serem entregues aqueles que compraram a ilusão de que seriam empresários e lhes restou a fome e boletos para pagar. A conta chegou e a fome não conseguiu esperar o Shopping Popular dar certo.

Fonte: Blog da Feira

Texto: Antônio Rosevaldo/Economista

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