No seu primeiro dia de agenda na Bahia, o ex-presidente Lula
discursou para representantes de movimentos sociais e líderes políticos na
Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Em um tom emocionado, o petista
revisitou a infância ao lembrar a trajetória da sua mãe que decidiu criar
sozinha 8 filhos para escapar da violência doméstica, e pediu que a história
sirva de exemplo para que mulheres não aceitem apanhar dos seus maridos.
O
petista lamentou que as mulheres ainda sofram com a violência de gênero e que
não é mais "aceitável" que o problema persista na segunda década do
século 21.
"Fui
criado por uma mãe que eu não entendo a força dela, mas com 8 filhos teve a
coragem de largar o meu pai e ir morar em um barraco. Meu pai cansou de tentar
convencer minha mãe a voltar e ela nunca aceitou. Eu nunca contei essa
história, mas queria que ela servisse de exemplo para que muitas companheiras
que apanham dentro de casa, são violentadas, mas não tem coragem de denunciar
porque dependem do salário do marido para viver, ou tem medo de serem
violentadas outra vez. As mulheres têm que denunciar, é necessário. Não é
crível, não é aceitável que a humanidade consiga ainda viver com isso",
lamentou Lula.
Presidente
entre 2002 e 2010, Lula disse que o Brasil precisa recuperar o prestígio
internacional e destacou que o país sempre teve uma relação diplomática co o
resto do mundo. Segundo o petista, não há hoje nenhum "presidente
civilizado" que queira visitar o Brasil de Bolsonaro, ou queira recebê-lo
em seu país
Para o
ex-presidente, o Brasil não pode ser tratado como uma "republiqueta"
e precisa valorizar aquilo que é venerado em todo o mundo, que é a nossa
cultura local.
Ele listou as
suas visitas aos países africanos e citou a criação de 19 embaixadas em seu
mandato, segundo ele uma forma de "retribuir com solidariedade" a
dívida história de ter um país construído com a mão de obra de africanos e
indígenas escravizados.
"O Brasil
não merecia ser tratado como uma republiqueta, esse país é competitivo. Essa
mistura de índio, negro e europeu que deum a mistura bonita, raça bonita, um
jeito de falar, de dançar, que é invejado no mundo inteiro, isso nós
valorizamos muito [...] visitei 34 países africanos, botei 19 embaixadas, pois
eu achava que o Brasil tinha a obrigação de retribuir com solidariedade o que
ocorreu com a escrevidão a que a África foi submetida", explicou.
PRISÃO - Preso
pela operação Lava Jato e inocentado após o ex-juiz Sergio Moro ter sido
declarado suspeito em seus processos, o ex-presidente falou do tempo que passou
no cárcere. Ele agradeceu aos advogados e reiterou que nunca cogitou fazer
algum tipo de acordo.
"A
diferença básica é essa: um ladrão faz delação, um homem honesto briga em
defesa da sua honra", assegurou o petista, que lembra ter recusado a
oportunidade de cumprir pena em prisão domiciliar para poder comprovar a sua
inocência.
Neste período,
lembra, contou com o apoio de pessoas que acamparam em frente à sede da Polícia
Federal em Curitiba. Debaixo de chuva e muito frio, aguardaram até o dia em que
Lula deixou a prisão.
Esta
perseverança que o ex-presidente diz se espelhar para tentar reconstruir o
país.
"[...]
uma chuva desgraçada, um frio porque em Curitiba faz muito frio, e esse povo
não arredava o pé. Um frio de 0 grau, povo de chinelinho no dedo, comendo por
lá, dormindo no chão, mas não arredou o pé. Por conta desse povo que nós temos
que sentar todos os dias e pensar em voltar a fortalecer a democracia no país e
estou convencido de que podemos reconstruir e voltarmos a ser respeitados no
mundo inteiro", previu.
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