sábado, 6 de março de 2021

Ponte da Matinha – O trem que nunca chegou na Feira (1)

 

Na venda de Zé Beiçola, no povoado da Linha, em Coração de Maria, o vaqueiro Marivaldo falou sobre Pedro de Santo que está vivo e trabalhou na construção da estrada de ferro cujos trilhos passariam ali mesmo nos fundos da casa e comércio de Beiçola.

– Você viu a ponte?, perguntou Beiçola, ainda desconfiado do ‘coroa’ perguntando sobre as ‘Casas de Turma” da Leste, onde moraram operários que trabalharam nas ‘bancas’ e nos ‘cortes’ da estrada de ferro.

Há um resto de ponte, umas colunas, no leito do rio por onde passa a estrada, mas não era esta a que ele se referia. Mas a do trem, aquela por onde passariam esses trilhos sobre o Rio Pojuca, em direção à Estação Nova em Feira de Santana.

Uma ponte de trem, feita em concreto armado, praticamente pronta, e esquecida no meio do matagal! Uma ponte no distrito rural da Matinha, em Feira de Santana.

                                        


“Descobri” a ponte e uma semana depois dessa conversa em Zé Beiçola, fomos até ela acompanhado do Sr. Pedro de Santo, Guda Moreno, sambador e compositor do grupo de samba-de-roda Quixabeira da Matinha, e o filho dele, Levi Moreno.

Essa foi a primeira visita. Houve a segunda onde desbravamos a “banca” também pelo lado oeste até a cabeceira da ponte. As fotos são de Daniel Rego. O acesso é difícil pois a “banca” está dentro de uma propriedade e está enmatada.

À cabeceira do lado esquerdo do rio, município de Coração de Maria, o acesso é feito por um curral de bovinos da comunidade que mora no povoado da Linha.

A ponte está escondida, protegida pelo mato, pelo esquecimento e inutilidade. Quase ninguém mais se lembra dela na região e as gerações mais jovens sequer conhecem ou ouviram falar vagamente.

De aspecto gigantesco como são quase todas as pontes ferroviárias, está ali desde o início da década de 60 do século passado quando as obras naquele trecho paralisaram de vez. Embora tenha mais de 60 anos, o concreto das colunas aparenta ter sido restaurado há pouco tempo.

Descemos ao leito do rio que nesse trecho é raso e estreito em determinado período do ano, olhamos de baixo pra cima, imaginando o barulho dos vagões rompendo a caatinga da Matinha, o que nunca ocorreu.

‘Seu’ Pedro conosco naquela primeira visita também desceu a barranca do rio. Ele trabalhou na ponte mas foi mesmo no “barracão” da obra que ele passou mais tempo.

Seu Pedro tem 90 anos de idade, mora num sítio entre o povoado de Jacu e Candeia Grossa. Do alpendre da casa dele avista-se o vale do  rio Pojuca que se estende em direção ao litoral e divide os municípios de Feira de Santana e Coração de Maria onde está o povoado da Linha, cujo nome já está dizendo, é uma fila com poucas casas dum lado e do outro da estrada, carroçável, paralela ou sobre a linha do trem que nunca passou.

Esse caminho de trem seria o prolongamento  da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, Logo depois de inaugurado o ramal que ligava Feira a Cachoeira e cuja estação funcionava onde hoje é o Feiraguay, a elite feirense lutou pela ideia desse outro ramal.

O sonho da cidade comercial de Feira de Santana era ‘fechar’ o entroncamento ferroviário perfeito, ligando Feira ao Recôncavo, Chapada Diamantina, Juazeiro e Salvador com as duas estradas passando por aqui para o transporte de gente e mercadorias.

O trem de Cachoeira correu trilhos muitos anos até ser memória.

O do São Francisco, esse ramal onde está a ponte, o trem nunca atravessou o rio Pojuca nem apitou na Estação Nova.

Aguarde:

Os ‘garimpeiros’ da ferrovia – Histórias do trem que nunca chegou na Feira (2)

 Fonte: Blog da Feira

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