Na venda de Zé Beiçola, no povoado da Linha, em Coração de
Maria, o vaqueiro Marivaldo falou sobre Pedro de Santo que está vivo e
trabalhou na construção da estrada de ferro cujos trilhos passariam ali mesmo
nos fundos da casa e comércio de Beiçola.
– Você
viu a ponte?, perguntou Beiçola, ainda desconfiado do ‘coroa’
perguntando sobre as ‘Casas de Turma” da Leste, onde moraram operários que
trabalharam nas ‘bancas’ e nos ‘cortes’ da estrada de ferro.
Há um resto de ponte, umas colunas, no leito do rio
por onde passa a estrada, mas não era esta a que ele se referia. Mas a do trem,
aquela por onde passariam esses trilhos sobre o Rio Pojuca, em direção à
Estação Nova em Feira de Santana.
Uma ponte de trem, feita em concreto armado, praticamente
pronta, e esquecida no meio do matagal! Uma ponte no distrito rural da Matinha,
em Feira de Santana.
“Descobri” a ponte e uma semana depois dessa conversa em Zé
Beiçola, fomos até ela acompanhado do Sr. Pedro de Santo, Guda Moreno, sambador
e compositor do grupo de samba-de-roda Quixabeira da Matinha, e o filho dele,
Levi Moreno.
Essa foi a
primeira visita. Houve a segunda onde desbravamos a “banca” também pelo lado
oeste até a cabeceira da ponte. As fotos são de Daniel Rego. O acesso é
difícil pois a “banca” está dentro de uma propriedade e está enmatada.
À cabeceira do lado esquerdo do rio, município de Coração de
Maria, o acesso é feito por um curral de bovinos da comunidade que mora no
povoado da Linha.
A ponte
está escondida, protegida pelo mato, pelo esquecimento e inutilidade. Quase
ninguém mais se lembra dela na região e as gerações mais jovens sequer conhecem
ou ouviram falar vagamente.
De aspecto
gigantesco como são quase todas as pontes ferroviárias, está ali desde o início
da década de 60 do século passado quando as obras naquele trecho paralisaram de
vez. Embora tenha mais de 60 anos, o concreto das colunas aparenta ter sido
restaurado há pouco tempo.
Descemos ao leito do rio que nesse trecho é raso e estreito em
determinado período do ano, olhamos de baixo pra cima, imaginando o barulho dos
vagões rompendo a caatinga da Matinha, o que nunca ocorreu.
‘Seu’ Pedro conosco naquela primeira visita também desceu a
barranca do rio. Ele trabalhou na ponte mas foi mesmo no “barracão” da obra que
ele passou mais tempo.
Seu Pedro
tem 90 anos de idade, mora num sítio entre o povoado de Jacu e Candeia Grossa.
Do alpendre da casa dele avista-se o vale do rio Pojuca que se estende em
direção ao litoral e divide os municípios de Feira de Santana e Coração de
Maria onde está o povoado da Linha, cujo nome já está dizendo, é uma fila com
poucas casas dum lado e do outro da estrada, carroçável, paralela ou sobre a
linha do trem que nunca passou.
Esse caminho de trem seria o prolongamento da
Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, Logo
depois de inaugurado o ramal que ligava Feira a Cachoeira e cuja estação
funcionava onde hoje é o Feiraguay, a elite feirense lutou pela ideia desse
outro ramal.
O sonho da cidade
comercial de Feira de Santana era ‘fechar’ o entroncamento
ferroviário perfeito, ligando Feira ao Recôncavo, Chapada Diamantina, Juazeiro
e Salvador com as duas estradas passando por aqui para o transporte de gente e
mercadorias.
O trem de
Cachoeira correu trilhos muitos anos até ser memória.
O do São
Francisco, esse ramal onde está a ponte, o trem nunca atravessou o rio Pojuca
nem apitou na Estação Nova.
Aguarde:
Os ‘garimpeiros’ da ferrovia – Histórias do trem que nunca
chegou na Feira (2)
Fonte:
Blog da Feira
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