O seu sonho era, um dia, ser lembrada como alguém que
imortalizou pessoas. Foi com essa ideia que a professora de Inglês Lélia
Vitor Fernandes de Oliveira começou a biografar personalidades das mais
diversas áreas e de perfis variados. Histórias de médicos, odontólogos,
professoras e figuras populares anônimas das ruas de Feira de Santana povoam
seus 34 livros publicados. Assim, ela acaba contando a história da
cidade.
Aos 77 anos de idade, Lélia mantém a simplicidade da menina que
virou poetisa (é assim que ela gosta de ser chamada) e contadora de histórias.
Como as que estão publicadas em “Cidadãos do Mundo”, livro de 2001, que reúne
os perfis de 120 personagens folclóricos que, embora anônimos, são conhecidos
da população feirense e circularam pela cidade desde 1950. Quem não lembra de
“Noratinho da Pamonha”, o simpático vendedor de pamonha que cantava a receita
da iguaria?
“Eu cheguei a entrevistá-lo”, conta professora Lélia, com um
entusiasmo contido, antes de citar outras pessoas populares biografadas: Helena
do Bode, que praticava o curandeirismo e mantinha em casa um bode preto;
Conterrâneo, um engraxate e sapateiro que ganhou na loteria e correu o mundo;
Maria Oreinha, que perdeu uma orelha em briga com uma desafeta e ia à loucura
quando era chamada pelo apelido; e Caculé, um comerciante de bugigangas que
idolatrava Roberto Carlos e falava sem parar.
Com prefácio do poeta cordelista Franklin Maxado e capa do
artista plástico Herivelton Figueiredo, o livro “Cidadãos do Mundo" deu a
Lélia um prêmio do Consulado do Japão na Bahia. A ex-secretária de Educação de
Santa Bárbara – onde nasceu – e de Feira de Santana, pesquisadora e
memorialista, ela vibra com o resultado de seus projetos. Um dos mais
gratificantes, confessa, foi “Mestras do Bem”, que conta a história de
professoras que ajudaram a construir a Educação feirense, com dedicação e
comprometimento.
“Anjos de Cabeceira” e “Promotores do Sorriso” apresentam dados
biográficos dos médicos e odontólogos com atuação em Feira de Santana, bem como
“Mulheres que deixaram marcas”, que cita da primeira gari contratada pela
Prefeitura Municipal, Maria Cerqueira da Costa, à primeira juíza da comarca,
Dra. Ruth Pondé Luz. Não somente os prefeitos ganharam destaque na obra de
Lélia Fernandes, como também as primeiras damas, que compõem o acervo pessoal
da escritora, hoje com mais de 2 mil títulos, sendo 560 de autores
feirenses.
“E não sei viver sem livros”, resume a escritora, que também já
resgatou a história do Museu de Arte Contemporânea (MAC) e criou o Memorial Maria
Quitéria no Casarão Olhos D’Água (foto em destaque), hoje Casa da
Cultura. Ela fez ainda uma coletânea de mais de três mil frases de caminhões
(“Sabedoria na Estrada”), epitáfios em lápides e nomes exóticos. Este último
trabalho a levou a fazer pesquisas também no Estado de Pernambuco. Agora, Lélia
está às voltas com a publicação do terceiro volume de “Inquilinos da
Cidadania”, em que biografa os vereadores desde a primeira formação da Câmara
Municipal.
Das mais de 30 obras publicadas, apenas três não são focadas em
Feira de Santana; contemplam as cidades de Santa Bárbara, Santanópolis e Caldas
do Jorro. Em “Feira de Santana, minha vida”, a feirense fala um pouco de tudo
da cidade, dos pontos de vista histórico e geográfico, juntamente com José
Raimundo Azevêdo e Aurélio Shomer. “Nossa história tem muitas contradições”,
diz a pesquisadora, que prefere a versão original. E ela, que passou tantos
anos de sua vida na sala de aula, certamente será imortalizada pela história de
Feira.
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