domingo, 6 de novembro de 2011

’A primeira reportagem a gente nunca esquece’

Augusto Ferreira - 27.8.2011 | 13h33m
BASTIDORES DAS REDAÇÕES
Chacina de ciganos e o generoso Zadir
O ano era 1990. Cheguei ao extinto jornal Feira Hoje para ser revisor ortográfico, uma função que não mais existe nas redações. Ainda se usava a velha máquina de datilografia. Eu trabalhava à tarde, coordenado pelo jornalista Anchiêta Nery, editor do ‘Feirinha’ na época. Recordo-me que uma das minhas missões semanais era revisar o suplemento Feira Noite e Dia, editado pelo jornalista Zé Coió. E, confesso, eu adorava revisar o material. Os textos passavam pelas minhas mãos antes de serem publicados. Uma aula sobre personagens da nossa Feira de Santana. Histórias e estórias fantásticas. E assim eu seguia como o mais foca dos focas na redação, cercado por jornalistas já tarimbados, como Valdomiro Silva, Jackson Soares, Reginaldo Pereira, Dimas Oliveira, Neire Matos, Madalena de Jesus, dentre outros. Até que um belo dia surgiu minha oportunidade de ir pra rua, não demitido, mas como repórter. Numa tarde de sexta-feira (1991), Anchiêta Nery me chamou e disse, com sua “inconfundível confusa” voz: “você vai ali em Conceição da Feira. Teve uma chacina de ciganos”. Era a pauta. Assim, na lata. Eu e o fotógrafo Washington Nery e o motorista Raimundão pra lá nos deslocamos. Uma loucura. Corpos dentro do Fórum, na rua, dentro da delegacia. Um sufoco, ainda mais para um iniciante. Eu estava perdido em meio a um mar de dúvidas. Foi aí que surgiu uma figura iluminada: Zadir Marques Porto. O experiente jornalista cobria a ocorrência para o jornal A Tarde. Como o delegado da cidade estava agitado e com pressa, não teve tempo de passar a mim as informações sobre a chacina. Tremi na base. Voltar sem a matéria, nem pensar. Logo na minha estréia. Mas o generoso Zadir não me deixou na mão. Com paciência e boa vontade me deu de bandeja tudo que precisava para o texto. A primeira reportagem a gente nunca esquece. Voltarei a escrever sobre casos que ficaram marcados nos meus muitos anos nas redações de jornais, revistas e TV. Muita coisa interessante vem aí. Tem Leonardo Pareja, ameaças de morte, queda de secretários, prêmios, crimes insolúveis, formação de novos jornalistas e, lógico, muitas histórias interessantes dos colegas.

(Augusto Ferreira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário